sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A reserva do possível e os laboratórios

O jornal O Valor Econômico publica matéria em primeiro de agosto de 2008 mostrando como as Ciências Sociais com base em pesquisa podem explicar a questão da demanda dos medicamentos. Não se trata, apenas, resolver por meio de critérios como "a reserva do possível. Mas dever buscar as verdadeiras causas, por exemplo, a pressão dos laboratórios.
Antropólogos vão pesquisar razões do fenômeno do Rio Grande do Sul

A demanda expressiva pelo fornecimento de medicamentos na Justiça gaúcha chamou a atenção de estudiosos estrangeiros. A partir de agosto, o Rio Grande do Sul passará a ser objeto de estudo de antropólogos da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, nos Estados Unidos, que têm o objetivo de mapear as ações judiciais no Estado e entender a razão do fenômeno. A universidade custeará por um ano, em parceria com a Universidade da Pensilvânia, uma pesquisa-piloto de uma equipe mista de alunos americanos e estudantes brasileiros da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
No Rio Grande do Sul, apesar de iniciativas da secretaria da saúde e da procuradoria do Estado, o número de ações continua aumentando - em abril de 2008 foram ajuizadas 580 novas ações; em maio, 733 e em junho, 937. De acordo com Lisandra Moraes de Azeredo, coordenadora da procuradoria do interior do Rio Grande do Sul, somente no interior do Estado há 16,3 mil ações em andamento. "É assustadora a demanda da procuradoria este ano", diz Lisandra.
A pesquisa coordenada pela universidade americana tem como objetivo entender a questão de todos os ângulos: a realidade dos pacientes do sistema judiciário e do sistema de saúde. De acordo com João Biehl, o antropólogo brasileiro e professor da Universidade de Princeton que irá liderar a equipe americana, um ponto de estudo será o descompasso entre a possibilidade de se obter, no Judiciário, acesso à drogas consideradas de alta tecnologia e a falta de investimentos em infra-estrutura na área da saúde. Segundo ele, o estudo vai considerar a influência dos laboratórios, já que Brasil é o décimo-primeiro maior mercado farmacêutico do mundo. "Acreditamos que a realidade brasileira pode ser o futuro de países em desenvolvimento que estão se tornando grandes mercados de laboratórios, como a África do Sul e vários na América do Sul", diz Biehl. Segundo ele, nos anos 90 a maioria das ações no Estado pedia o fornecimento de medicamentos de aids, mas, com a adesão do país a uma política gratuita de fornecimento de medicamentos. "Esse movimento abriu espaço para o ativismo judicial em outras doenças", diz.
A equipe brasileira formada por seis estudantes da UFRGS, comandada por Paulo Picon Dornelles, chefe técnico de política de medicamentos na secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, está à espera da equipe de Princeton. Segundo Picon, o grupo vai mapear as ações judiciais e entrevistar juízes e pacientes para entender o fenômeno das ações judiciais que se intensificou desde 2003. (LC)

3 comentários:

Unknown disse...

Gostaria de saber, como está o andamento do estudo em questão. Sou Procurador do Município de Piracanjuba, Estado de Goiás, e aqui não está sendo diferente.

Unknown disse...

Obrigado

sixmony disse...

http://joaobiehl.net/wp-content/uploads/2009/07/Judicialisation.pdf