sábado, 22 de junho de 2013

A perplexidade dos intelectuais da USP

Vejam a perplexidade dos intelectuais da USP. A crise político-social com seus desdobramentos institucionais já não era latente evidenciada ao longo desses últimos anos pelo conflito de poderes? O propalado ativismo judicial não encombria uma profunda crise de representatividade política?

Debate aponta tédio e crise na democracia como causas
Folha de São Paulo 22 de junho de 2013
Pesquisadores da USP discutiram os protestos que se espalharam pelo país
Guinada conservadora foi apontada como desdobramento da onda de manifestações em "UTI" de teóricos
CLÁUDIA COLLUCCI PAULO WERNECK DE SÃO PAULO 
Sentimento de tédio entre a juventude, crise da política representativa e guinada conservadora estão entre as hipóteses levantadas no debate "O que está acontecendo?", realizado por pesquisadores do IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP, ontem. O diretor do IEA, Martin Grossmann, referiu-se ao debate como uma "UTI" montada para entender as manifestações.
Professor de ética e filosofia política da USP, Renato Janine Ribeiro comparou a situação brasileira com a de países onde ocorreram revoltas recentes.
Para ele, assim como a Espanha, o Brasil é uma sociedade democrática, ao contrário das nações que viveram a Primavera Árabe: "Talvez o problema, para nós, não seja tanto a opressão, mas o tédio". Segundo Janine, o tédio esteve na origem da revolta de Maio de 68, em Paris.
Sylvia Dantas, professora de psicologia na Unifesp, foi nessa linha e definiu o estado de espírito dos brasileiros como "melancolia" e "impotência". "As manifestações trouxeram vida, esperança. É um movimento de catarse. A insatisfação teve voz."
Nem todos, porém, acharam a explicação satisfatória. "Compartilho apenas em parte o ponto de vista de que o movimento nasceu do tédio ou eventualmente teve uma dimensão espontânea ", disse José Álvaro Moisés, professor de ciência política na USP, lembrando os oito anos do Movimento Passe Livre.
Referência na militância de esquerda no país, o crítico literário Alfredo Bosi não conseguiu chegar à USP por causa de um protesto na rodovia Raposo Tavares e enviou sua intervenção por e-mail.
Para ele, entre os ganhos do movimento está o reconhecimento do direito à manifestação: "Governo, imprensa, universidade e todas as instâncias envolvidas no processo são (ou ficaram) unânimes no reconhecimento do direito de manifestação de segmentos da população".
Bosi apontou a crise da "democracia puramente formal e representativa em termos eleitorais": "Seu descrédito merecido exige alguma resposta, ainda que difusa e insuficientemente articulada".
A questão também foi apontada pelo antropólogo italiano Massimo Canevacci e por Moisés. "Atualmente ninguém quer ser representado", disse o italiano. "Existe uma afirmação crescente da autorrepresentação."
Moisés apontou o "enorme mal-estar com a democracia no Brasil". "Os partidos fracassaram, inclusive os que nasceram dos movimentos sociais, como foi o caso do PT."
Para Sergio Adorno, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, trata-se de "um momento de interrupção da comunicação entre os atores políticos. "Os canais considerados legitimamente aceitos de comunicação e reivindicação parecem insatisfatórios."
Pelo Skype, Bernardo Sorj, professor de sociologia na UFRJ, lembrou que, apesar da importância da internet, os protestos mostram que a arena da política ainda é a rua. "Milhares de assinaturas contra Renan Calheiros não levaram a nada, mas milhares de pessoas na rua, sim."
Em nível nacional, segundo ele, a Copa foi o estopim dos protestos. "Deveria ter sido um momento de ufanismo, de orgulho, mas as pessoas viram obras públicas superfaturadas, associadas à corrupção. Foi o contrário do que os governos esperavam."
A "guinada conservadora" observada pelos debatedores, principalmente nos protestos de quinta-feira, foi citada entre os possíveis desdobramentos do movimento.
Lúcia Maciel de Oliveira, da Escola de Comunicações e Artes da USP, se disse "inquieta". "Essa guinada conservadora é bastante preocupante". Ela criticou a demora do prefeito Fernando Haddad para se posicionar: "Quando se posicionou, foi de forma conservadora".
Alexey Dodsworth Magnevita, da nova geração do IEA, alertou sobre a "fagocitação do movimento por parte de grupos conservadores".
Historiadora especializada no mundo árabe, Arlene Clemesha afirmou que no Egito há denúncias de que "bandidos" sejam pagos para manchar o movimento nas ruas. "Aqui também começam a aparecer grupos oportunistas, de caráter fascista."
O debate está disponível no site do IEA (iea.usp.br).

Nenhum comentário: