terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O Judiciário na "midia" americana e brasileira: comparando

Leiam a importante matéria publicada na Folha de São Paulo de 04 de janeiro de 2009 que traça um quadro comparativo da relação da "midia" com o Judiciário no Brasil e nos Estados Unidos. Aliás, em matéria postada no dia 1º de janeiro de 2009 neste blog, já apontava-se, ao publicar a pauta do STF para 2009, para o fato de um destaque excessivo para o STF como ator político em detrimento, por exemplo, da presença do Legislativo como orgão decisório da vontade da maioria da sociedade brasileira.


Dois jornais, dois juízes e suas diferenças

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, apareceu nas
páginas da Folha 651 vezes durante o ano passado. O da Suprema Corte
dos EUA, John Roberts, esteve nas do "New York Times" no mesmo período
742 vezes. A diferença não é expressiva.
O que impressiona é a maneira como Roberts surge no "Times" em
comparação com Mendes na Folha.
Roberts está no jornal quase exclusivamente em citações de suas
opiniões nos casos que julga e de suas intervenções nas audiências que
norteiam a decisão dos juízes. Ou quando alguém se refere a ele:
políticos, colunistas, editoriais.
Há só uma declaração de Roberts no "Times" fora da corte: de 31 de
dezembro de 2008, quando pediu ao Congresso que aumentasse o salário
dele próprio e de seus colegas.
Roberts quase não dá entrevistas. No ano passado, nenhuma que eu tenha
conseguido localizar. Também não faz discursos fora do tribunal.
Em 2006, falou à rede de TV ABC, e foi criticado por ter citado
memórias de juventude.
Mendes é diferente, em especial neste jornal, que lhe confere status
de celebridade, nos seus piores aspectos. Em 50 textos em 2008, ele
aparece fazendo declarações, muitas de cunho político, algumas
repetidas duas vezes com títulos semelhantes ("o habeas corpus é como
o ar") no espaço de quatro dias (12 e 16 de dezembro).
Se Roberts e a rede ABC foram atacados por ele ter se lembrado de seus
dias como jogador de futebol no colégio e demonstrado camaradagem
excessiva com a entrevistadora, o que se diria se aparecesse como a
revista Serafina deste jornal retratou Mendes em 8 de junho, em
reportagem chamada "O amor e o poder", em que ele e sua mulher posavam
na intimidade do lar como se fossem astros de cinema?


Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 24 de abril
de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois.
Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade
por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal
sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas
reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de
comunicação."

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